quarta-feira, 5 de agosto de 2009

No Sinal Vermelho - Pare!

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
ESCOLA DE COMUNICAÇÃO DA UFRJ
ESCOLA LIVRE DE CINEMA DE NOVA IGUAÇU


NO SINAL VERMELHO – PARE!


Projeto de pesquisa para realização de vídeo-documentário


ANDRÉA SOUZA VALE



Nova Iguaçu
Julho de 2009
ANDRÉA SOUZA VALE



NO SINAL VERMELHO – PARE!


Trabalho de conclusão de curso de extensão apresentado à Universidade Federal do Rio de Janeiro e Escola Livre de Cinema de Nova Iguaçu como requisito de conclusão do curso de Cinema.


Orientadora: Ilana Strozenberg



Nova Iguaçu

Julho de 2009


Tema: Esquinas

“No sinal vermelho – Pare!”




Introdução

O processo de venda informal nos sinais de trânsito dos grandes centros urbanos é uma realidade que não se pode negar. Ela tem se auto afirmado como instrumento indispensável ao sustento e ao surgimento de novas formas de trabalho. Esses novos meios de sustento se encontram independentes do modo capitalista de produção. São pessoas que não conseguem se inserir no mercado de trabalho, na sua maioria, por não possuírem um nível de escolaridade exigido pelo modo capitalista de produção, ou pela demanda de trabalho muito maior que o mercado oferece.
Com essa nova realidade os indivíduos que não se enquadram no modelo neoliberal de trabalho, fazem do espaço da rua o seu local de trabalho e sua luta pela sobrevivência. Recuperando antigas relações sociais fundadas na reciprocidade e cooperação solidária. Surgindo nos centros urbanos o “mercado a céu aberto”, como afirma Tiriba em artigo publicado na revista Proposta (2003, p. 39) “... nos deparamos com uma infinidade de trabalhadores que apresentam-se individualmente (?) no mercado, fazem do espaço da rua seu local de trabalho...cujos nomes não constam como trabalhadores de uma renomada empresa...”.
No artigo do antropólogo Roberto DaMatta: “A casa, a rua e o trabalho”, do livro O que faz o brasil, Brasil? (1986), o projeto propõe a realização de um documentário que irá abordar o cotidiano de alguns trabalhadores que têm na rua seu lugar de sustento, a partir de seu próprio ponto de vista.
Com base nos estudos dos autores citados o documentário poderá contribuir para detalhar a realidade de trabalhadores que embora façam parte da nossa sociedade, de forma efetiva, estão à margem da sociedade e de suas regras trabalhistas pelo fato de serem considerados informais. Isto é, não terem seu trabalho oficialmente reconhecido pelo Estado.
Podemos observar que esse tipo de trabalhadores são considerados informais pela visão capitalista. Mas quem são essas pessoas? Em que espaços “da rua” fazem sua economia? Quais as razões sociais que os levaram para rua? Como se vêem enquanto trabalhadores? Como se organizam suas relações de venda? Como se relacionam com as pessoas para quem vendem?
São perguntas como essas que este trabalho pretende responder, através de um registro em forma de documentário audiovisual., com foco na observação de três personagens que vendem no sinal de trânsito localizado na Rua Dom Walmor e a Via Light, na cidade de Nova Iguaçu, no estado do Rio de Janeiro.
Em entrevista preliminar, realizada para a elaboração desse projeto, foi possível perceber que esses homens não se vêem como estando à margem da sociedade ou das relações de trabalho. Trata-se de três indivíduos que trabalham nos sinais de trânsito da cidade há cerca de 15 anos. Todos têm forte preocupação com o marketing de venda de seus produtos e também com suas técnicas de abordagem dos consumidores, conseguindo estabelecer uma relação pessoal com as pessoas para as quais vendem. Alguns se tornam seus clientes. Sustentam sua família com essa venda e, consideram a falta de oportunidades de estudo o fator responsável por não terem conseguido se inserir no mercado de trabalho formal. Quando o assunto é carteira assinada, não a consideram relevante para a sua vida. Dizem que já estão habituados ao trabalho informal. Hoje, a formalidade é vista por eles como falta de liberdade.


Justificativa

Trabalhadores informais podem ser dois terços da força de trabalho no mundo em 2020, segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) afirmou em abril deste ano. Em seu relatório temos 1,8 bilhões de trabalhadores na informalidade. Hoje no Brasil são 35 milhões de pessoas vivendo graças ao rendimento do trabalho informal, metade do total da força de trabalho brasileiro segundo pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O mercado informal brasileiro só é comparável a países do chamado quinto mundo, como Bangladesh e Somália.
A economia movimentada pelos sem-registro chega a R$ 220 bilhões, cerca de 35% do Produto Interno Bruto (PIB) oficial. De acordo com o Ministério do Trabalho a média do rendimento de um trabalhador empregado registrado é de R$ 514,00 contra R$ 410,00 de quem vive de bico ou por conta própria.
O trabalhador, por sua vez, fica desprotegido e vive sob o medo da instabilidade. Vivendo num mundo onde se vê excluído e com poucas condições de se inserir no mercado de trabalho, dentro de um apartheid tecnológico: sem conhecimento, desempregado, sem ensino, sem saúde, sem cidadania. Esses homens, mulheres, crianças e idosos encontram na rua sua vitrine, onde irão estabelecer novas relações: trabalho, amizades e convívio cada vez mais real em nossa sociedade. Somos um país da informalidade. Vivemos uma segmentação no mercado de trabalho, que bloqueia o crescimento e cria desigualdades.
Com base nas pesquisas citadas, o presente projeto mostra sua relevância ao detalhar a realidade de trabalhadores que fazem parte da nossa sociedade de forma efetiva, mas por serem considerados informais são vistos como estando à margem da sociedade e de suas regras trabalhistas. Esta será, portanto, uma forma de conhecer aspectos de nossa vida cotidiana que, como diz Gilberto Velho (1981), embora nos sejam familiares, nos são desconhecidos, na medida em que deles conhecemos apenas os estereótipos sociais predominantes a seu respeito. Como argumenta Durkheim (1978), a todo o momento sofremos coerção direta e indireta dos valores e normas sociais e é nesse processo que adquirimos nossas representações da realidade. O documentário aqui proposto pretende apresentar um outro ponto de vista sobre os que trabalham nas ruas, que permite ir além desses estereótipos.

Discussão Teórica

Na era contemporânea a qualidade e a quantidade de educação recebida por um individuo têm um peso importante na possibilidade de se inserir no mercado de trabalho. Em nossa sociedade excludente, muitos se encontram sem conseguir se inserir no mercado formal de trabalho. Saem dos “muros seguros” das regras trabalhistas e caem na crueldade da rua sem “muros” e regras pré-estabelecidas. Estamos diante de uma nova realidade, são bilhões de indivíduos que não se encaixam nas novas regras trabalhistas. Temos que ter um novo olhar, uma nova maneira de sentir, e de agir. Segundo Durkheim: “... É fato social toda maneira de agir fixa ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou então ainda, que é geral na extensão de uma sociedade dada, apresentando uma existência própria, independente das manifestações individuais que possa ter...”.
Ao percebermos o novo modelo de trabalho: a informalidade nos depara com a utilização de um espaço novo a “rua”, local de movimento, de pessoas indiferentes e desconhecidas, chamadas de povo, de massa. Em seu artigo “A casa, a rua e o trabalho”, Roberto DaMatta cita “... Em casa, temos as ‘pessoas’, e todos lá são ‘gente’ – ‘nossa gente’. Mas na rua temos apenas grupos desarticulados de indivíduos - a ‘massa’ humana que povoa as nossas cidades e que remete sempre a exploração e a uma concepção de cidadania e de trabalho que é nitidamente negativa...” (1986, p. 29).
A rua, cenário externo que se mede pela luta, crueldade, multidão, anonimato, onde somos vistos como seres plurais. A casa cenário interno que se vivência o aconchego, a proteção, cumplicidade, onde somos vistos como seres singulares. Mostrar com a maioria de nossas idéias e tendências embora em certa medida elaboradas por cada um de nós, nos vêm de fora, dos códigos e normas sociais do contexto em que estamos inseridos. A todo o momento sofremos coerção direta e indireta e assim se forma o ser social
Casa e rua como mostra Roberto Da Matta, são modos de ver, explicar e vivenciar o mundo. Mas como será este mundo visto do lado de fora de nossa proteção doméstica? Como é a realidade dos que utilizam da rua de fato, para conseguirem seu sustento? Quais as relações estabelecidas entre quem vende e quem compra? Qual contexto leva uma pessoa a utilizar da rua como seu local de trabalho? São essas questões que se mostram relevantes aprofundar nesse trabalho.

Objetivo

O projeto tem como objetivo a elaboração de um documentário audiovisual, com a duração aproximada de 20 minutos, que terá como tema a forma de venda direta de produtos nos sinais e de trânsito da cidade de nova Iguaçu, na via expressa conhecida como Via Light, na esquina da Rua Dom Walmor, no centro desta cidade.
Serão focados três personagens centrais visando registrar os seguintes aspectos:

- Sua trajetória de vida e os motivos que os levaram a realizar esse tipo de atividade;

- Sua percepção a respeito do trabalho como vendedores nos sinais, de suas relações com os motoristas (potencias fregueses de seus produtos), com a fiscalização da Prefeitura, e com os demais transeuntes;

- Sua estratégia de compra, venda e logística;

- O modo como o trabalho de vendedor nos sinais se insere no contexto de suas vidas.


Metodologia

Para fundamentar e contextualizar o trabalho será feita, inicialmente, uma pesquisa documental através do levantamento de material bibliográfico, audiovisual e da internet que abordem o assunto em pauta.
Para a realização do documentário propriamente dito será realizada uma pesquisa de campo através da observação e de entrevistas com os três vendedores ambulantes que serão o foco do registro. Para garantir a diversidade e a riqueza das informações, foram selecionados dois vendedores do sexo masculino e um do sexo feminino, sendo que todos estão há pelo menos 10 anos trabalhando como vendedores do setor informal, mais especificamente, nas ruas de Nova Iguaçu.
O tempo previsto para a realização da pesquisa de campo será de aproximadamente dois meses.


Referências Bibliográficas

CANCLINI, Nestor García. Consumidores e Cidadãos – Conflitos multiculturais da globalização. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1997.


DA MATTA, Roberto. O que faz o brasil, Brasil?. Rio de Janeiro: Rocco, 1986.
DANTAS, Edna. “O jeito brasileiro” - Economia e Negócios. Rio de Janeiro: Revista Isto É, Editora Três, 23 de Outubro, 1996.

DURKHEIM, Emile. “Que é Fato Social?” In DURKHEIM, E. As regras do método sociológico. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1978.

VELHO, Gilberto. "Observando o familiar". In. Individualismo e Cultura, notas para uma Antropologia da Sociedade Contemporânea. Rio de Janeiro: Zahar, 1981, p.121-132;

TIRIBA, Lia. O trabalho no olho da rua: fronteiras da economia popular e da economia informal. Rio de Janeiro: Revista Proposta n. 97, Junho/Agosto, 2003.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

À espera



e cadê os projetos prontos, que tanto demoram a chegar aqui ???????

domingo, 2 de agosto de 2009

crianças de gaza tentam bater o recorde de mais pipas empinadas